postheadericon Atividades no CCA

O Centro de Convivência de Afásicos (CCA)

O Centro de Convivência de Afásicos (CCA), localizado no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, pode ser definido como um espaço de interação entre pessoas afásicas e não afásicas cujo objetivo é desenvolver atividades e práticas voltadas à reorganização da linguagem, de algum modo alterada devido a comprometimento neurológico decorrente de acidentes vasculares, traumatismos cranioencefálicos ou tumores. O CCA, dessa maneira, procura garantir às pessoas afásicas efeitos terapêuticos e sociais possibilitados por um conjunto variado de experiências interacionais e sociocognitivas cotidianas. Sendo uma atividade de extensão universitária, o CCA também desenvolve estudos linguísticos baseados na observação das práticas ali realizadas.

Nosso objetivo no CCA tem sido menos a normalização de formas linguísticas e mais a emergência de atos de linguagem e de práticas discursivas que visam à significação e à comunicação. Se, por um lado, a evocação de diferentes práticas discursivas interessa à análise de processos linguístico-cognitivos, por outro ela não deixa de atuar terapeuticamente na restituição de papéis sociais, na partilha de um espaço simbólico, no fortalecimento de quadros interativos, na recomposição da subjetividade, na caracterização do CCA como uma espécie de microcosmo social.

O enfraquecimento dos suportes coletivos está, segundo perspectivas sociológicas, fortemente relacionado à exclusão social (Baumann, 1996; Castells, 1995). O CCA encontra sua vocação potencialmente inclusiva ao associar estudo acadêmico com ações que procuram enfrentar o preconceito linguístico, o isolamento social e a subtração da pessoa afásica das esferas públicas - aí incluindo especialmente o mundo do trabalho.

O grupo de convivência de afásicos e não afásicos coordenado pela Profa Dra Edwiges Maria Morato, do Departamento de Linguística da UNICAMP, com a colaboração de membros do grupo de pesquisa COGITES (“Cognição, Interação e Significação”), funciona desde 2002. Desse grupo, que promove suas reuniões às quintas-feiras pela manhã, participam atualmente cerca de 10 pessoas afásicas e 04 pesquisadores, a partir de uma perspectiva sociocognitiva que metodologicamente se desenvolve em meio a práticas discursivas as mais variadas (interações verbais orais e escritas variadas, coexistência de processos de significação verbais e não verbais, recursos multissemióticos implicados no trabalho de expressão teatral ou de musicalização, dentre outras).

Com sede própria desde 1998, o CCA é fruto de uma iniciativa conjunta do Departamento de Neurologia e o de Linguística ao final dos anos 1980 de desmedicalizar a convivência com a afasia e os afásicos. Tem sido descrito como um espaço de interação entre pessoas afásicas e não afásicas no qual se realizam atividades (também chamadas de Programas ou Oficinas) interacionais diversas que procuram evocar rotinas significativas de vida em sociedade (conversação cotidiana, debates sobre temas de interesse comum, jogos, cinema, cafés coletivos, visitas a exposições, elaboração de jornal – “Jornal do CCA” – picnics, saraus musicais, etc.) e atividades que envolvem expressão artística (música, teatro, dança). A finalidade é desmedicalizar o acompanhamento de pessoas afásicas, informar familiares e amigos sobre a condição afásica, potencializar ações inclusivas, estudar a linguagem e a cognição em uso, em interação, em contexto.

Afasia
A afasia pode ser definida grosso modo como uma alteração de linguagem e processos afeitos a ela decorrente de lesão cerebral adquirida. Distintas etiologias, como acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranioencefálicos e tumores podem causar afasia, que pode ser acompanhada de sinais neurológicos (como a hemiplegia, por exemplo) e distúrbios cognitivos (como apraxias, agnosias, amnésias, por exemplo) de distintas ordens e graus de severidade. A afasia e os eventuais transtornos cognitivos decorrentes de lesão traumática ou vascular geralmente melhoram, em maior ou menor grau, dependendo de vários fatores.



Referências básicas:
MORATO, E. M. et al. Sobre as afasias e os afásicos: subsídios teóricos e práticos elaborados pelo Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Campinas: Ed.Unicamp, 2002.

____________. (Orga). A semiologia das afasias – perspectivas linguísticas. SP: Cortez, 2010.
____________. Neurolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.) Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez. v.2 (versão atualizada) 2012.
___________ Metodologia em Neurolinguística. Ciências da Linguagem: o fazer científico Volume 2 (Adair Vieira Gonçalves & Marcos Lúcio de Sousa Góis, Orgs.). Campinas: Mercado de Letras, 2014. p. 281-320.